Tudo o que um Natal diferente nos ensina...
O Natal é sempre uma época especial, com características muito diversas das do resto do ano.Este ano, quase ironicamente, torna-se um bocadinho mais igual ao resto do ano do que desejaríamos – perante as circunstâncias atuais, tão desafiadoras, o Natal pode assumir contornos algo diferentes, dependendo dos hábitos e tradições de cada família nesta altura do ano.
No que diz respeito a pais e filhos, porque todo o dia a dia volta a mudar – quer pelas férias ou dias passados mais junto dos pais, mudanças de rotina e alterações dos hábitos diários e de sono, também pelo confronto com hábitos e tradições quebradas, as visitas a familiares e amigos que este ano não estão facilitadas – os ambientes,os tempos e a estimulação geral que se vive nestes dias,pode ser palco de alterações do comportamento, birras dos mais pequenos,situações mais difíceis de gerir por parte dos pais, resultando em cansaço acumulado,relações desgastadas e ansiedade a crescer. Estas alterações são expectáveis perante mudanças grandes e, à partida, não colocam como hipótese nenhum “problema” psicológico da criança.Mesmo os adultos sentem a tensão, frustração e alguma ansiedade que esta época de maior azáfama traz,ainda mais com todos os condicionalismos que uma pandemia implica, pelo que não é de estranhar que os mais pequeninos, que ainda estão a aprender como lidar com ansiedades e frustrações, acusem um pouco o cansaço e,não raras vezes, se “portem mal”.
O que fazer perante a adversidade? O que fazer quando não é possível mudar as circunstâncias? Na verdade,todas as crises encerram em si um potencial enorme de aprendizagem,tanto para miúdos como para graúdos. E talvez possamos falar dos adultos, para depois poder falar dos mais pequenos. Porque os pais são sempre um modelo para as crianças, esta é, sem dúvida, uma oportunidade para exercitarmos as nossas capacidades de gestão do tempo e de recursos, paciência, resistência à frustração, capacidade de dar ao outro, de estar ,gerir e filtrar estímulos.
Ficam algumas ideias para este período natalício tão diferente:
- Mantenha as rotinas que facilitam o equilíbrio familiar: as simples rotinas e gestos de todos os dias ajudam as crianças a manter uma estrutura no seu dia a dia que lhes confere uma maior segurança por tornar tudo mais previsível e controlável - horários das refeições e de sono, rituais familiares, tradições que podem manter. Por isso, se é habitual fazer a árvore de Natal e decorar a casa, vamos continuar a echer a casa de cor, mesmo que o resto da família não esteja presente este ano.
- Converse , responda a perguntas, explique de forma sucinta as eventuais diferenças face a Natais anteriores – com verdade e simplicidade, de forma adequada à idade, poderá ser importante explicar ao seu filho porque é que este ano poderão não poder viajar ou juntar toda a família alargada, se isso constituía um hábito ou tradição.
- Mantenha o contato social - apesar do distanciamento físico, com recurso às novas tecnologias é possível reduzir as distâncias e o isolamento. Quem sabe até é possível incluir este ano na noite de Natal alguém que está noutro país e que em outros anos não tem estado por perto… Se for possível, será importante manter o contato com os avós, caso este ano não lhes seja possível passarem os dias festivos juntos.
- Acolha as emoções com cuidado e respeito, permitindo e orientando para que vão sendo expressas de forma adequada.
- Garanta tempo de um para um – tal como deveria acontecer sempre, é importante pque os pais possam ser claros em relação ao tempo. È fundamental que possa haver algum tempo diário, “não dividido”, em que os pais estejam disponíveis para brincar ou conversar; mas que também possam ir mostrando que também precisam do seu tempo pessoal, que a criança deverá ir percebendo à medida que cresce.
- Promova a autonomia – aproveite para conscientemente promover comportamentos mais autónomos e de interajuda na família. De acordo com a idade da criança, é importante que vá começando a assumir responsabilidade pelas suas tarefas de cuidados pessoais, como vestir, arrumar o quarto, higiene; e também pelas tarefas escolares e de ajuda em casa.
- Não se esqueça do seu próprio equilíbrio psicológico – Os pais devem procurar ter tempo de qualidade individual e não esquecer que também existem enquanto casal . Devem procurar ativamente estratégias para se sentirem fortalecidos face às tensões, stress e e ansiedade que sobrecarregam no momento atual.
Durante a pausa letiva, continua a ser importante manter atividades de exercício físico e alguns “passeios higiénicos”, fornecer alternativas, acompanhadas ou não, à ocupação online excessiva, promover o equilíbrio psicológico através da prática conjunta de exercícios de relaxamento.
Este pode ser um momento para aprendermos a selecionar os estímulos, não nos deixarmos “inundar” pela hiperestimulaçãoe pela velocidade com que a informação chega, Por estas e outras razões, a proposta que fica este Natal é a de treinarmos esta nossa competência de mediar o mundo para os nossos filhos. Do mesmo modo que não os deixamos ver filmes de terror com tenra idade, levemos às crianças o tempo que é das crianças, ofereçamos-lhes o que são capazes de gerir, e talvez mais um bocadinho , para poderem ir aprendendo. Devagar e de forma adequada. Para que possam aproveitar e usufruir de uma época que se quer de paz e tranquilidade, e para que mesmo os adultos possam aproveitar este tempo, apesar das contrariedades. Com divertimento, mas sem pressas, sem azáfamas exageradas, sem ritmos demasiado apressados.
Se pensarmos que é esta tranquilidade que queremos trazer aos nossos filhos podemos, no fim de contas, perceber que talvez até seja aquilo que também queremos para nós e que nem sempre é fácil de conseguir. Afinal de contas tudo o que os pais melhor podem garantir aos seus filhos – e não é isso o fundamental? - é o seu afeto incondicional e e que ali estarão independentemente de todos os cenários.
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